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quinta-feira, dezembro 20, 2012

ENTREVISTA - UM TDAH E SUA PEREGRINAÇÃO


Neste post temos uma entrevista  especial (e especial quer dizer a primeira deste blog), e temos como convidado o TDAH  “Hernan Rodrigo Vazquez.” .

Foto pouco convencional, então perfeita para a entrevista de um TDAH.

Um argentino naturalizado no Brasil, que saiu pelas estradas da vida com somente com sua mochila que tinha apenas algumas poucas roupas, arame, algumas sementes, e assim, foi viajar.



Peregrino: Bom, para começarmos, fale-nos sobre você:

Hernan: Tenho 41 anos, trabalho como encarregado num Almoxarifado, vivo no RJ, descobri meu DDA faz 2 anos, sou solteiro e Hobbies variam demais, hoje em dia é debater e ter um monte de idéias que nunca consigo executar (um dia chego lá).

Peregrino: E então, você é argentino mesmo?

Hernan: Sim, sou Argentino, conheço Brasil desde criancinha pois meu pai mora aqui, vim de vez em 2000.

Peregrino: Quantos anos você tinha quando resolveu tomar esta decisão?

Hernan: 30.

Peregrino: Você trabalhava antes de fazer isso?

Hernan: Trabalhei sempre em muitas coisas diferentes, mas quando decidi "chutar o balde" estava sem emprego.

Peregrino: Como era sua vida social antes disso?

Hernan: Sempre tive uma boa vida social, sou bem sociável, porém antes da viagem (durante um período de mais ou menos um ano), eu fiquei muito só, me isolei.

Peregrino: O que te levou cogitar a fazer isso?

Hernan: Recebi uma visita de uma conhecida da Argentina, ela Artesã, que estava começando a viajar, e quis começar pelo RJ, apesar dela não falar o idioma, uma amiga que temos em comum me perguntou por e-mail se eu ajudaria ela no primeiro mês em que ela ia ficar no RJ, eu falei que não tinha problema. No mesmo dia em que ela chegou, enquanto procurávamos um lugar para ela ficar esse primeiro mês, conversando, ela me falou olhando para mim, que ela me achava doente (no sentido anímico, caído, sem reação), e eu na mesma hora me toquei que era verdade...nesse momento já perguntei a ela se tinha algum problema de eu ir embora viajar com ela, ela topou, nesse mês fizemos amizade com alguns malucos de BR que nos ensinaram algumas coisas bem básicas, e com isso caímos na estrada. 

Peregrino: Você tinha boas condições para progredir na vida caso fosse uma pessoa dita normal?

Hernan: Se bem acho difícil responder perguntas hipotéticas, (se não fosse...), acho que sim, educação boa, condições relativamente boas...

Peregrino: Tinha família?

Hernan: Sim, ainda tenho. e me dou bem com eles.

Peregrino: Pensou muito antes de fazer isso? E planejou bem depois de decidir fazer?

Hernan: Não e Não, decidi num segundo, e o planejamento que fiz foi do “meu jeito”, isto é, aprendi a fazer umas coisinhas bem simples, comprei uma passagem para nosso primeiro destino (Vila Velha), e fui com R$ 100,00. Umas poucas ferramentas velhas que consegui, algumas sementes e pedras que comprei mais algumas que os malucos de BR me deram de presente, e lá “fuimos”!!

Peregrino: Oque pesou mais para que não executasse o plano?

Hernan: Não ouve nada que me impedisse de ir, eu precisava mesmo ir.

Peregrino: quais foram as dificuldades que você enfrentou?

Hernan: Muitas, desde explicar a família o inexplicável, até ir vivendo o dia a dia, e aprendendo, tanto seja artesanato como as leis da estrada e das ruas, nesse tipo de vida as coisas nunca são cinza, é tudo ou nada.

Peregrino: Por quantos anos você  permaneceu assim?

Hernan: Um ano.

Peregrino: Quais lugares você visitou nesse tempo?

Hernan: Não da para falar todos, mas alguns, Vila Velha, Vitoria, Alegre, Alto Caparaó, Mariana, Ouro Preto, BH, Teofilo Otoni, Vitoria da Conquista, Arraial D´ajuda, Lumiar, Campos, Nova Friburgo, Sana, Marataizes, e muitas mais...

Peregrino: sua colega argentina estava com você na jornada?

Hernan: Só no primeiro mês, você comparte trechos das suas viagens, mas a não ser que case(o que não era o caso pois ela era só minha amiga), numa hora os caminhos seguem rumos diferentes, a amizade continua é claro!! mas cada um por seu lado.

Peregrino: Por que não viajou pela argentina ao invés do Brasil?

Hernan: Por que eu estava aqui, e a decisão foi na hora aquela, com minha amiga que veio viajar pelo Brasil.

Peregrino: Como era sua rotina nas ruas? 

Hernan: Não tinha muita rotina, se estiver viajando na estrada, você acorda cedo(geralmente quem te acorda é o sol mesmo), e vai caminhar, procurar carona, trampar (fazer artesanato) ,vender , ou até explorar o lugar. nas cidades sim chega a ter uma minima rotina, ou seja, você acorda, faz um café da manha, trampa, meio dia vai vender ou almoçar, de tarde fica trabalhando, a noite procura um "Mocó"(um lugar minimamente seguro para dormir), e vai dormir com um olho aberto. só que isso também varia muito, se você estiver com uma galera boa, se está com reservas (seja de grana ou comida), se trabalhou a noite (a gente procura festas para vender melhor), se está sozinho, se está acompanhado, etc, etc...enfim...nunca dá para ter uma rotina mesmo.

Peregrino: Conseguia dormir sob um teto na maioria das vezes?

Hernan: Não, ou dependendo do que você se refere com isso, normalmente para dormir na rua você procura um lugar meio escondido e que tenha pelo menos um toldo, caso chova. se tiver barraca, dependendo aonde você pode montar ela, em cidade grande não dá, no interior isso é mais comum. em muitos lugares você faz amizade e o pessoal te convida para dormir nas suas casas, mas nisso ai você tem que ter sempre muito cuidado, tem que ver direito onde você se mete.

Peregrino: Enfrentou muitos perigos nas ruas?

Hernan: Vários, na realidade nesse ponto você sabe que sempre tem perigo, pode vir da policia, dos favorceros (pessoal que mora na rua que fica só pedindo sem trabalhar, não mendigos ) que a noite procuram os artesão para rouba-los e até mata-los para pegar e vender os pertences(por isso tem que dormir sempre com um olho literalmente aberto, jeje), ou se estiver no mato, até dos bichos ou animais que possa ter.

Peregrino: O que você acha que aprendeu com isso tudo?

Hernan: Muito, desde humildade até fazer artesanato(e com isso saber que sempre vou ter como ir em frente), a cair e levantar na mesma hora, ficar atento, dormir com um olho aberto, (Risos)

Peregrino: Se pudesse voltar atrás, você faria tudo de novo?

Hernan: SIM.

Peregrino: Quando ainda estava lá, você chegou a pensar que não deveria ter feito isso, que deveria desistir  e que voltar?

Hernan: NÂO, apesar de que ouve momentos muitos pesados, esse pensamento não veio.

Peregrino: Quais foram os melhores momentos disso tudo?

Hernan: Um monte!! As vivencias, as amizades, os lugares, a paixão, a vida é outra, quase que um outro mundo paralelo, mas isso também depende muito de você mesmo, de como encara as situações, da tua disposição para as coisas, tem que entender que nessa vida, não existe planejamento, você simplesmente vive.

Peregrino: Quando percebeu que era realmente a hora de voltar?

Hernan: No final da viagem aconteceram coisas mais graves, e eu comecei a me descontrolar, parei de me cuidar, a beber muito, usar drogas, e teve um dia em que vi que meu corpo não estava mais aguentando, as feridas não cicatrizavam, ai chegou um dia em que eu “me vi”, e pensei, tenho que parar um pouco e me recuperar(mais o pensamento, nem o sentimento, foi de parar definitivamente, só um tempo até voltar a ficar forte).

Peregrino: Como foi sua volta?

Hernan: Tranquila, o que mais me custou foi chegar na Praça 15 sem grana, e tentar vender artesanato no RJ de novo(as pessoas de cidades grandes são muito esquisitas, vivem com medo, no interior as pessoas vem, conversam, e outra coisa), acabei vendendo uma pulseiras para um taxista e pude pegar o ônibus até a casa da família.

Peregrino: foi fácil retomar sua antiga vida?

Hernan: Na realidade nunca retomei, tudo foi diferente, mais voltar a ter uma rotina, prestar atenção no trabalho e nunca conseguir, me dar mal, tentar muito fazer as coisas bem e bater sempre a cabeça contra a parede... isso foi duro, estava quase largando tudo de novo quando como ultima opção, decidi pesquisar na internet meu problema(nem sabia que existia o TDAH/DDA, não mesmo), ai encontrei um monte de coisas, e vi a descrição da minha vida no Google, só que com outros protagonistas, mas com detalhes amais e outros com detalhes a menos; era minha vida que estava ali, foi incrível, fiz os testes (fui horrível no de DDA). Daí corri atrás, fui numa psicóloga (especializada em TDAH/DDA), e ela me diagnosticou, isso mudou minha vida, o rendimento no trabalho mudou tanto(quando comecei com a Ritalina), que em 3 meses estava recebendo prêmios, e uns meses depois, aumentaram meu salário. Ainda me falta muito, tenho que achar um jeito de fazer TCC, e melhorar mais minha concentração, mas estou indo...

Peregrino: As coisas ainda são como eram antes de você viajar?

Hernan: Não, olhando para atrás, acho que nunca tive épocas parecidas, a única coisa que acho constante na minha vida, é que minha maior luta e comigo mesmo.

Peregrino: Bem, obrigado por ter nos concedido esta entrevista.

2 comentários:

  1. Uau. Acho que o que o Hernan fez passa pela cabeça de muitos adultos com TDAH.

    Quando começo a me imaginar viajando, tenho medo de um dia do nada resolver sair pelo mundo, ir parar bem longe e não conseguir dinheiro para voltar.

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  2. Ainda planejo fazer isso, com um violão nas costas e uma gaita no bolso.

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